sábado, 9 de abril de 2011

Carta de despedida

Fiz 21 anos na terça-feira passada. Nenhuma mulher deixou meus braços insatisfeita.
Apenas uma me rejeitou, e quis o destino que fosse ela a única importante.
É por isso que, aos 21 anos resolvi acabar com minha vida...


Quero encerrar minha vida por causa de um coração partido. A mulher responsável por isso é Doña Ana, minha gloriosa, mas perdida alma irmã. Um mundo em que devo viver sem minha querida Doña Ana é um mundo em que não mais desejo permanecer embora ainda seja o maior amante do mundo.

Nenhuma mulher jamais saiu de meus braços insatisfeita, mas isso não tem a maior relevância, agora que perdi a única mulher que já me importou. Assim, no vigor da vida, aos vinte e um anos, decidi encerrar minha vida esta noite. A incomparável Doña Ana foi outrora toda minha, mas a perdi para sempre.

Meu amor pertence agora, para sempre, a essa única e adorável mulher. Nunca mais entregarei todo o meu coração a cada doce jovem, como outrora fazia. Doña Ana me possui, e fugiu de mim, sem qualquer boa razão. Destruiu nossa felicidade, e me deixou apenas com indagações. Por que ela acabou com nossa perfeita bem-aventurança? Por que todas as minhas súplicas foram em vão? Por que meu sacrifício mais sincero foi inútil? Por que ela foi embora de nosso Paraíso sem olhar para trás?

Doña Ana me deu o melhor motivo para me lançar no olvido, mergulhar na eternidade. A memória, como um véu, obscurece minha vista, pior do que minha máscara de seda preta jamais foi. Não posso mais avistar um caminho para continuar por este mundo frio e cruel. Não sei o que ela está sentindo. Creio que pode estar arrependida, sufocada pelo pesar. Gostaria de pensar que ela sente saudade de mim, e que acha todos os piqueniques secos e insossos, depois do requinte das refeições que partilhamos. Seria agradável pensar assim. Mas talvez eu nunca saiba se ela sofre tanto quanto eu. Aquela donzela simples, a quem dei meu amor irrestrito, talvez nunca tenha apreciado que amor excepcional abandonou quando me rejeitou. Doña Ana me deixou apenas as cinzas do amor, me deixou apenas a sofrer as pontadas amargas da rejeição. Outros podem conhecer essa dor alarmante, a terrível humilhação de ser rejeitado por uma mulher. Nunca fui repelido antes daquele dia.

Minha vida sempre fora de felicidade e amor, idolatrado pelas mulheres. Todas sempre me adoraram, e eu a elas, até que Doña Ana fugiu de mim naquela tarde angustiante. Depois que ela partiu, vagueei pela ilha por dias. Quem quer que encontre esta mensagem, suplico que mantenha a visão dessa mulher deslumbrante e desaparecida pairando em sua memória, como ela assoma para sempre na minha.

Lembrei de lhe contar que a túnica de seda branca de Doña Ana fluía em torno do corpo gracioso, até os pés delicados, de tal forma que ela parecia uma sereia enquanto corria de mim? Contei isso? É tarde demais agora. Estou partindo para o olvido...









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